ENEM 2023 e a Filosofia

 

ENEM 2023 e a Filosofia




Mais uma vez presenciamos o Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, na área de ciências humanas, contendo uma série de questões relevantes de filosofia. Dessa vez desde pensadores como Horkheimer, Adorno, Sartre, Foucault, sofistas, bem como escritores clássicos da literatura, como Machado de Assis, bem como o polêmico pedagogo Paulo Freire, como autores, além de temas característicos da reflexão atual, como Ditadura Militar, Inteligência Artificial, gênero, bem como tantos outros, levando a se utilizar a filosofia para o ingresso na universidade e outras instituições a que usam o ENEM como critério, alavancando a carreira profissional dos estudantes. A prova teve como principal temática as mulheres.


A redação por si só já dava uma temática reflexiva, sobre o papel da mulher na tarefa de cuidado, do trabalho e mesmo de menor valorização em sua remuneração ou salário. A redação levou assim uma temática da sociologia, ou mesmo antropologia, para o desenvolvimento do texto discursivo. Das questões em específico, a de Paulo Freire levou a se pensar na escola como algo transformador na sociedade, em participação sociopolítica. Na questão do filósofo Michel Foulcault, citando o livro Vigiar e Punir, se levou a pensar nos crimes e na justiça, sendo a resposta referente ao judiciário na diferença em relação à situação patrimonial, como no roubo, em comparação a de evasão fiscal, entre outros desvios comerciais, menos punidos, ou com menos rigor. O tema era do crime do colarinho branco, apesar de não se referir com esse termo. Outra questão, a primeira, era a de indústria cultural, onde o lazer do trabalhador também serve a função capitalista, voltado ao trabalho, não sendo uma forma legítima de diversão, ou de acesso à cultura. A questão de Machado de Assis se referia a sofistas, e ao tema da retórica e do discurso, tão relevantes aos filósofos tão criticados por Sócrates e Platão. Já as questões sobre a ditadura militar, colocava a repressão e o tema de desvio de uma luta social, no caso o sindicato que cumpria essa função, na época. Da questão da vacina se colocava o governante responsável pela saúde, ainda se fazendo uma ponte para o pensamento iluminista. Ademais, se tratou da violência patrimonial, da Lei Maria da Penha, tema relevante para a cidadania, foco da escola.

No geral o ENEM foi bem elaborado e teve boa avaliação crítica para os estudantes que o fizeram. Havia ainda outros autores da filosofia e sociologia, mostrando que não apenas de matemática, português se faz uma boa prova. Também que o mero tecnicismo e memorização não são mais os focos da educação, se mostrando mais relevante saber interpretar textos, ter uma visão crítica, bem como ter habilidades e competências para a cidadania, que o mero decoreba de temas e cálculos. Uma surpresa recente também foi a prova para professores do estado, em que também se mostrou o foco na pedagogia e no ensino, e não em conteúdos específicos das disciplinas, uma vez que agora são áreas do conhecimento, segundo o Novo Ensino Médio. O ENEM também está caminhando para se firmar o Novo Ensino Médio, mesmo que se parece sofrer fortes mudanças para o ano que vem. Os alunos preparados terão um futuro de boas possibilidades, levando a educação a ser transformadora da sociedade.

Mariano Soltys, professor e advogado

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