A Filosofia no ENEM 2019
A Filosofia
no ENEM 2019
No último
Domingo presenciamos a realização do Exame Nacional do Ensino Médio, o ENEM, feito
em território nacional, de modo que se noticiou muitos estudantes que perderam
o horário, ou que por motivos variados não conseguiram prestar o exame, ou até
quem mesmo na oração acalorada esqueceu-se da pontualidade. O governo queria um
exame sem a questão ideológica, e ao que se esperou do ENEM, observou-se que
mesmo assim o mesmo manteve a qualidade da prova. Esperava-se que a filosofia
não estivesse muito em destaque, mas ao se ler, percebe-se que caiu sim muita
questão de filosofia, até mais que dez, além de destaque para a arte e cultura,
que também figuravam grandes protagonistas de primeiro dia de prova. Dentre os
filósofos tratados, estavam Jackes Derrida, Abbagnano, Francis Bacon, Agostinho
de Hipona, Eric Hobsbawm, Foucault, Descartes, Maquiavel, Newton, Hannah
Arendt, Pierre Lévy, Kant, Adam Smith
etc.
Da leitura da prova, se notou o
grande destaque para a arte e cultura, com obras de Picasso, Jackson Pollock,
Hilda Hilst, religiões africanas, Jacques Le Goof sobre a Idade Média etc.
Também a ciência oficial se manteve intocável, com Newton e sua maçã, Marcelo
Gleiser etc, além de grande enfoque com a cultura atual, contextualizando temas
como redes sociais, informática, distúrbios alimentares, etc. Ademais, se
destacaram as questões sobre cidadania, direitos humanos, democracia, direitos
sociais, estatuto do idoso, de modo que o aluno teria de mostrar seu perfil
cidadão e consciente de seus direitos mais básicos e essenciais. Mas da
filosofia, a primeira pergunta parecia ser sobre a alteridade, numa alusão a
relação com o outro e diferenças (questão 46 de caderno amarelo). Usou-se o
dicionário de filosofia de Abbagnano numa questão sobre direitos. Questões
sobre Maquiavel (87), da idealidade da moral, e de Descartes (89), sobre o
pensamento racional. De Kant sobre a
moral (70). Bastava-se conhecer o básico desses pensadores, suas correntes de
pensamento para se responder tranquilamente. De Santo Agostinho caiu uma sobre
livre-arbítrio, ou da limitação da liberdade do homem frente ao pecado. Sobre
Foulcault (84), em tema incomum ele tratou de um aspecto de regras, sendo a
resposta o tema legal. E assim com outros
pensadores.
A prova foi bem elaborada e manteve a
boa exigência de conhecimentos do aluno, não perdendo a ótica científica,
cidadã, democrática e contextualizada do estudante, de modo que vai além do
simples decorar ou questionar a ciência. Não se viu uma questão sobre “Terra
plana” na prova, o que seria mais de ideologia ligada ao governo, ou também com
enfoque demasiado fundamentalista cristão, tendo apenas uma questão sobre
história da Igreja. No mais, a prova do ENEM respeitou a finalidade para que se
destina, e mostrou que a filosofia ainda vive, e que não se pode retirar sua
importância dos estudos, seja em nível médio ou acadêmico. Os temas exigiram um
enfoque mais crítico e profundo, o que se pode fazer com a filosofia, não sendo
possível igual pensar sem ela. Muito do que caiu já tratamos em nossos artigos.
Mariano
Soltys, advogado e filósofo
Questão 15 caderno amarelo
Comentário
Pierre Lévy é um pensador
contemporâneo que trata de tecnologia da informação e nossa relação com tal.
Diferente do que se pensa da filosofia, a tecnologia sempre foi também tema da
reflexão. O próprio enunciado da questão a responde, uma vez que a contribuição
de pessoas ou usuários é essencial para as novas tecnologias, onde se diz que “jamais
dispensará a inteligência pessoal”. Resposta C.
Questão 19
Comentário: Aqui um pouco de
conhecimento ou vocabulário auxiliaria responder a questão. Como se trata de
uma carta de um jogo ou super trunfo, se pode já de cara relacionar ao elemento
lúdico, que foi usado para relacionar a sua biografia. Sendo a resposta correta
a letra C.
Questão 46
Comentário: Aqui parece ser o
centro do ensino de Derrida, mas em especial a relação com o outro-eu, com o
outro, com a relação com o ser-fora-de-si etc. Logo o tema é a alteridade. Logo
a resposta é a letra C.
Questão 47
Comentário: Aqui nesse dicionário
de filosofia extenso, acaba-se Poe encontrar grandes ensinos. Lembro que foi um
dos primeiros dicionários mais extensos que conheci de filosofia. Abbagnano é
marcante. Nessa questão se fala de direito, em um sentido mais iluminista ou
contratual, de contrato social, e de uma ética que é respeitar a liberdade do
outro ao exercer sua liberdade. Logo o direito é um tema da sociedade, social
de relação entre pessoas. Então a resposta é a letra B.
Questão 58
Comentário: Aqui se faz um
paralelo entre o filósofo e economista Adam Smith e Anderson, de modo que fica
o livre mercado, ou concorrência, em paralelo aos monopólios, tendo a letra B
como resposta. Smith seria então um liberal e já numa noção básica podendo
levar o aluno a resposta correta. Logo a interferência estatal ou de leis seria
restritiva, para Smith.
Questão 64
Comentário: A questão do
livre-arbítrio em Santo Agostinho se refere a um tema ético e moral, mesmo que
se trate do pecado e da ética cristã, da patrística. Logo a resposta B seria a
mais óbvia e as outras não teriam qualquer nexo, apesar de tratarem de temas
cristãos ou religiosos. Em relação a Deus a postura moral do homem é
insuficiência, e na doutrina da graça apenas a fé em Jesus Cristo renderia a
salvação. A liberdade foi dada ao homem para crer ou não crer, e em Agostinho,
também para saber para crer. A escolha
do homem ainda estaria limitada nesse livre-arbítrio em relação a Deus.
Questão 70
Comentário:
Aqui se pode gerar uma grande confusão para quem conhece Kant. Uma primeira
impressão seria a da epistemologia dele, que levaria ao “a priori”, ou
aprioridade do juízo, mas não trata o texto desse tema. Aqui se fala da moral,
e da norma interior. O paralelo foi com uma fenomenologia, o fenômeno do mundo,
sendo a resposta certa a letra E. Basta se lembrar que para Kant essa norma
deveria ser por dever, e racional, e não meramente por uma finalidade como se
chegar ao céu ou paraíso.
Questão 84
Comentário: Aqui se mostra uma
questão um tanto sociológica no modo de ver, de interações sociais como fator
referencial. Apesar de Foulcault ser da área da psicanálise, da sexualidade, de
prisões, corpo etc, e também parecer um tema legal, o tema da questão são as
interações sociais e esse aspecto de contingência, focando a letra C como
resposta.
Questão 85
Comentário: Para o método
científico, e quando vemos o pensador Francis bacon, pensamos de um dos inícios
do método científico, junto com Newton etc, e desse modo ele trata aqui do
espaço físico, e não de infalibilidade, uma vez que começa por hipóteses que se
descartam, logo a ciência é falível, sendo um de seus aspectos esse. O texto II
confirma esse aspecto espacial, sendo a letra A, a resposta.
Questão 86
Comentário: Hannah Arendt criou
na época uma polêmica com os judeus, ao afirmar que nazistas apenas seguiam
leis, mesmo ela sendo judia. Logo a obra dela tratava sobre a segregação racial
que ocorreu na Alemanha nacional-socialista, entre arianos e judeus, fundada na
teoria da eugenia, logo em fundamentos biológicos da época, ou biopolíticos,
pois se referia a terceiro reich, ou império. A letra fica D como resposta.
Questão 87
Comentário: Aqui se mostra um
pouco da moral ou amoral de Maquiavel, onde se trata do tema de meios que
justificam fins, ou mentir para um bem maior ou político. A letra da resposta
fica A, e para quem leu e conhece Maquiavel vê essa separação entre o real da
moral e o ideal, em se tratando de política. Numa moral prática e não mais
pautada em algo fora da força ou virtu (de virtude).
Questão 89
Comentário. Aqui ao e ler
Descartes, se pode pensar desde logo em racionalismo, numa visão mecânica e
objetiva de mundo. O texto II confirma essa cosmovisão e nos leva a numa
leitura concentrada e focada, a resposta pelo enunciado. Letra A.
Imagens de site objetivo (https://www.curso-objetivo.br/vestibular/resolucao_comentada/enem.asp)
, mas aqui com comentários meus.
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